Por que decidi cuidar da Saúde Mental dos Professores
- Diêgo Avelar Diniz
- 30 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de jun.
Quando comecei meu trabalho com Psicologia Clínica, trabalhei algum tempo sem delimitar um foco de tratamento, acolhendo pessoas com os mais diversos sofrimentos e dilemas que fazem parte da experiência humana. No entanto, chegou um momento do consultório que escolhi (e precisei) delimitar um campo de trabalho, e foi aí que direcionei meus esforços para entender e cuidar de pessoas que já tiveram Crises de Ansiedade e Pânico. Para minha surpresa, após um curto período de trabalho com essa temática, percebi que a maioria das pessoas que procuraram a Psicoterapia eram Professores, principalmente dos ensinos fundamental e médio, majoritariamente atuantes nas escolas públicas brasileiras.

Essa constatação me levou a prestar ainda mais atenção nesse fenômeno. Não demorou muito para que eu encontrasse uma série de estudos e notícias que corroborassem minhas observações clínicas. Os fatores que contribuem para esse estado alarmante são diversos e penso estarem conectados. A sobrecarga de trabalho é um dos principais culpados. Eles se veem obrigados a desempenhar múltiplas funções além do ensino, como tarefas administrativas e acompanhamento individualizado dos alunos, sem o devido suporte ou compensação. Essa situação é exacerbada pela falta de recursos básicos e infraestrutura inadequada, que transforma a sala de aula em um campo de batalha diário pela atenção e aprendizado dos estudantes. Além disso, a violência nas escolas é uma realidade que não pode ser ignorada. Professores frequentemente enfrentam situações de conflito e agressão, seja entre alunos, seja direcionada a eles próprios.
Por gratidão e por missão, criei um projeto social dedicado a quem tanto transforma: os professores. Ofereço atendimentos psicológicos a valores acessíveis a sua realidade financeira, honrando minha própria história — filho da educação pública, formado por políticas federais, guiado desde cedo por mestres que acenderam em mim o amor pelo saber. Atender educadores (e parentes de 1º grau) é, para mim, devolver em cuidado o que recebi em afeto, palavras e futuro. Que esta escuta seja também um espaço de acolhimento para quem tanto cuida e ensina.

A pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios, claro, mas também intensificou os já existentes! A transição para o ensino remoto, feita de maneira abrupta e sem preparação adequada, expôs a falta de recursos e formação continuada para muitos educadores. A exigência de adaptação rápida a novas metodologias de ensino, somada ao isolamento social e ao medo do vírus, agravou os problemas de saúde mental dos professores. Na minha opinião, uma mudança que levaria cerca de 10 anos para acontecer, aconteceu em 2!
Entretanto, talvez o aspecto mais desolador seja a falta de apoio psicológico institucionalizado. Apenas uma pequena parte dos professores tem acesso a serviços de saúde mental oferecidos pelo sistema educacional. Esse dado é particularmente preocupante quando se considera a magnitude do problema. A ausência de ajuda não só perpetua o sofrimento, mas também compromete a qualidade do ensino, criando um ciclo vicioso de desvalorização e precariedade.

Ao negligenciar a saúde mental dos educadores e suas necessidades básicas para a realização do trabalho, estamos comprometendo o futuro da educação no Brasil. Um sistema educacional que não cuida de seus professores está fadado ao fracasso, pois eles são o principal agente de ação do sistema. Penso que precisamos urgentemente de uma transformação que coloque o professor no centro das políticas educacionais. Programas de apoio psicológico devem ser implementados e ampliados, reconhecendo-os como um pilar essencial para o desenvolvimento educacional. Só assim poderemos garantir um ambiente de aprendizagem saudável e produtivo para nossos jovens, pavimentando o caminho para um futuro mais justo e possível.
Levando em consideração o que vivencio todos os dias no consultório, as Crise de Ansiedade entre os professores brasileiros também é um reflexo das condições adversas enfrentadas diariamente nas escolas. É claro que em um processo de Psicoterapia vamos procurar entender como esse sintoma também está ligado as vivências anteriores e particulares de cada um, evidenciando o caráter da necessidade de travessia encontrada através de um vínculo terapêutico em Psicanálise. Porém não poderia deixar de sublinhar que em minha prática clínica levo em consideração a contemporaneidade desse sujeito que também é múltiplo. Em minha visão, é necessário um esforço coletivo para reverter esse quadro. Investir na saúde mental dos educadores é investir no futuro da educação no Brasil.
Espero que esta explicação tenha sido útil para você compreender o funcionamento da Psicoterapia On-line e sua proposta de tratamento e cuidado, mas caso tenha alguma dúvida ou deseje saber mais sobre como a Psicoterapia pode lhe ajudar, por favor, não hesite em me contatar clicando no botão abaixo.